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Agenda / Rolou por aqui
10/11/2022 por Carolina Grimiao
Tempo de Leitura: 4 minutos
“Quando o discurso ‘favela é potência e não carência’ irá sair do papel? Quando isto deixará de ser um conceito para virar uma atitude? E quando esta potência deixará de ser subserviente e irá começar a se desenvolver?”. Esse foi o questionamento que o Líder Comunitário, Doutor em Ciências Sociais e Membro da Academia Internacional de Literatura Brasileira, Reginaldo Lima, trouxe em sua fala.
Realizado no último dia 07 de novembro, no Auditório Arapuan Motta, o evento “A Favela é todo dia” discutiu, junto a importantes lideranças comunitárias, temas relacionados à Educação, contextos históricos e de transformação social, e foi mediado pelos professores João Silva e Cláudia Costa. Entre os convidados estavam além de Reginaldo Lima, o Diretor Presidente do Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação de Maricá, Celso Pansera; o Fundador do Grupo Cultural AfroReggae, José Junior; o criador do Programa Papo de Responsa, Beto Chaves; a Coordenadora da ONG Educap, Lucia Cabral e atriz Ju Colombo.
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Enquanto profissional do meio artístico, Ju Colombo destacou como o caminho da Educação é um fator importantíssimo na formação de cada um de nós. Em seu depoimento, a artista defendeu que a maior ferramenta pedagógica, enquanto seres humanos, é nossa própria vida e relembrou a história de Nelson Mandela. Um símbolo da liberdade que, enquanto separado da própria família logo após sua prisão, sofreu incansavelmente ao se questionar o que desejavam tanto tirar dele, a que coubesse tanto sofrimento e desgaste emocional. Logo, Mandela percebeu que aquilo que desejavam esgotar nele, era algo que ninguém jamais conseguiria esgotar, a sua dignidade: “A luta contra a segregação e o regime do apartheid não é contra um só inimigo. É contra um sistema.”
Já a Coordenadora da ONG Educap – Complexo do Alemão, Lúcia Cabra,l é moradora da região há 55 anos e abriu a sua fala declarando seu amor e sentimento de pertencimento pela comunidade que sente ser seu lar. A professora e assistente social, fundou a ONG em 2008 com o objetivo de promover diversos projetos voltados para a Saúde e Educação para os moradores da comunidade. Para ela, era sua obrigação como moradora e como cidadã a melhoria da qualidade de vida da favela através do ativismo comunitário.
E defende que a luta vai muito além, indo contra uma visão violenta, preconceituosa e desumana de que na favela só nasce bandido. O ativismo de Lúcia se pauta em vivenciar a favela e romper as barreiras não somente fora dos muros da comunidade, mas dentro dela também. E exemplifica sua recepção de diversas universidades para discutir e estudar como lidar com violência doméstica, ainda mais se tratando de um ambiente com contexto histórico de violência oriunda do Estado.
Essas questões dimensionam o ativismo exercido nas comunidades e enfatizam o objetivo de Lúcia que luta para que as ideias desenvolvidas no seu trabalho cheguem a cada vez mais pessoas, dentro e fora da favela. É uma luta pelos direitos humanos de moradores de comunidades, que sofrem com desrespeito em centros médicos, mercados, farmácias e instituições de ensino. Lúcia encerra enfatizando: “Somos CPX, não somos bandidos”.
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Reginaldo Lima também compartilhou parte de suas experiências como líder comunitário, criado no Complexo do Alemão. Em seus argumentos, acredita que a identidade do brasileiro, trabalhador, que nunca desiste, que sempre vai à luta se destaca entre os demais países da América Latina. E estas qualidades são originadas da favela e, com isso, a sociedade busca se apropriar das virtudes que estão presentes nos moradores da comunidade e marginaliza todo o resto.
Em um levantamento, foram estudadas 10 comunidades que, agregadas, representam uma economia equivalente a cerca de 119.8 bilhões de reais. Em um país com mais de 215 milhões de moradores, mais de 5500 municípios, somente 10 comunidades já agregam o valor do PIB de nações latinoamericanas inteiras. E ainda sim, permanece fixado o estigma de que a favela representa somente miséria, precariedade de educação e principalmente violência.
E traz a história do seu cotidiano, enquanto respondia a amigos e terminava um dia de trabalho, Reginaldo revela que seu filho, que na época tinha apenas 9 anos, se aproximou do pai para perguntar: “Pai, o senhor está escrevendo um livro?” e logo em seguida perguntou: “Gente como a gente pode escrever um livro?”. O choque de Reginaldo quando uma criança lhe proferiu a frase “gente como a gente” o fez assumir a responsabilidade de responder seu filho.
Seu livro, “Filosofia Generalista, Não Filósofo”, é seu legado reflexivo deixado para a criança como resposta. O objetivo da obra é provocar e contextualizar as reflexões ao redor de fé, amor, liderança, preconceito e o que Reginaldo em seus sentimentos tratou com extrema importância: união. Uma vez unida, a favela jamais quebrará, logo, a pauta da favela não é só Reginaldo. Pois a favela é gigante, e dia da favela é todo dia.
Cobertura jornalística de: Gabriel Sabba
Fotos: Fernando Salles
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Analista de Comunicação do Blog UNISUAM. Jornalista, Historiadora e Psicopedagoga. Mestranda em Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Mídia e Cotidiano da UFF. Apaixonada por Educação e Cultura Popular.
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