Seu Direito, Mulher!
17/05/2022 por Patrícia Bordinhão
Tempo de Leitura: 2 minutos
No segundo domingo do mês de maio é comemorado o Dia das Mães. Contudo, a data foi perdendo seu propósito após tantos anos de comemoração.
As ativistas feministas Ann Maria Reeves Jarvis e sua filha Anna Jarvis popularizaram às homenagens ao Dia das Mães, anos depois da morte de sua mãe, criando um memorial em homenagem e iniciando uma campanha para que a data fosse um feriado reconhecido.
Ela obteve sucesso ao torná-lo oficial nos Estados Unidos em 8 de maio de 1914. Data que se popularizou internacionalmente. Pautadas pelo feminismo e ideais de valorização da mulher, a data possuía objetivos bem diferentes. Entretanto, acabou pendendo para o lado comercial.
O Dia das Mães é uma oportunidade especial para refletirmos sobre o feminismo: uma oportunidade para as mães e para as que não são. Como muitas autoras já fizeram questão de pontuar, a maternidade é uma questão central na experiência feminina e muito da nossa identidade se ancora nas expectativas que a sociedade projeta para a tarefa de maternar. Refletir sobre ela é não só uma possibilidade, mas uma condição de conquista da autonomia.
Em sua complexidade, a maternidade é atravessada por muitas contradições. Ela pode ser um lugar de clausura, opressão e cerceamento das possibilidades de vida, e também pode ser um espaço protegido, onde desenvolvemos a consciência de quem somos e despertamos para a força de uma ética fundada no cuidado. O olhar sobre o que é ser mãe neste mundo e neste tempo nunca pode ser proposto a partir de uma única perspectiva. Ser mãe pode ser igualmente perdição ou salvação. Por isso os clichês desta data podem nos parecer, muitas vezes, como expressão de um pieguismo um tanto hipócrita.
Um olhar feminista sobre a experiência materna deve passar não pelo repúdio da disposição de cuidar, mas de uma profunda transformação das práticas que integram esse caminho tortuoso a que chamamos responsabilidade de cuidado. Um convite a pensarmos sobre solidariedade, equilíbrio na distribuição de encargos, fragilidades e propósitos. Mães não são guerreiras, não sabem de tudo e no mais das vezes se quebram pela vida, carregando no corpo um amontoado de cicatrizes invisíveis, mas dolorosas.
Assim, neste mês tão simbólico para tantas mulheres, espero que vocês estejam cercadas de amor, aliviadas de todas as culpas e protegidas da sensação de desamparo que tantas vezes nos persegue. É possível que muitas estejam se olhando no espelho com muitas dúvidas. Mas está tudo bem. Afinal, estamos juntas, construindo esse refúgio que um bom encontro nos oferece.
Feliz Dia das Mães!
Patrícia Bordinhão é Advogada, Coordenadora de ensino, Professora universitária, Diretora da OAB Mulher Leopoldina/RJ, Secretária geral da Comissão da Mulher da ABA do Rio de Janeiro e Membro da Comissão Nacional de Direitos Humanos da ABA.
Deixe um comentário